domingo, 24 de novembro de 2019

Mais teatro e teatro teatro




Que motivo me levou a fazer teatro? Porque eu quis ser atriz? 




O motivo mais importante que me fez insistir na carreira de atriz foi o prazer de fazer teatro. O prazer de atuar. O teatro me seduziu muito antes de frequentar a escola de cênicas, porque sempre pensei no teatro como uma arte de reflexão, de crítica, de amor e estudo do ser humano. Teatro não é só divertimento. Assistindo espetáculos teatrais, lendo as obras de brecht, shakespeare, lorca, vianinha, Ibsen,  lope de vega, plinio marcos, nelson rodrigues e jorge andrade comecei a me conscientizar da importância social e política deste veículo de comunicação.  Atuar em teatro tem sido experiência e aprendizado de vida para mim. O teatro me tornou uma pessoa muito melhor. Uma mulher generosa. Sensível. Equilibrada. O teatro realmente tem me ensinado a viver. Aprendi a ouvir. Aprendi a refletir e pensar graças ao exercício cênico. O meu ofício tem me possibilitado ser uma pessoa verdadeira e expandir a minha personalidade. Eu sou uma pessoa que tenho uma grande necessidade de me comunicar com os outros. E o teatro tem me possibilitado essa comunicação através da expressão dramática.  






Teatro é paixão, é vocação, é sacrifício, é amor.  É doação pela e para a arte. Eu não sou ingênua. Eu também quero ser bem remunerada nesta profissão. Quero prestígio e reconhecimento público, como resultado de um trabalho que não visa só sucesso ou  lucro pessoal. É correto lutar para ter uma posição na sociedade e bem estar pessoal. Mas acredito que acima de tudo nesta profissão está o ser humano. E a minha responsabilidade como artista. Usar a arte como um instrumento de reflexão do homem e da sociedade. Agora que teoria ou técnica eu vou usar pra alcançar esse objetivo eu não sei. Estou aberta e disponível. Vou trabalhar meu corpo  e me reeducar para este novo universo no qual vou  aprender a viver. Não importa então  a técnica ou o processo que vou utilizar. Eu estou disponível. De corpo e alma. É o meu ofício. É o que sei fazer. Vamos lá. O teatro é a minha profissão. Eu quero correr os riscos.




Teatro e cidadania



Vou falar de teatro. Porque amo tanto fazer teatro, e o que o teatro representa em minha vida.



Adolescente eu descobri o teatro no segundo grau. Na disciplina de Educação Artística. Muito tímida, o teatro me ajudou a melhorar minha oratória e comunicação em sala de aula. Descobri potenciais que até então não sabia possuir como criatividade, habilidade em lidar com o público, sensibilidade, iniciativa, persistência e curiosidade. O teatro passou então a ser um mecanismo de autoconhecimento em minha vida. Graças ao teatro comecei a aguçar o meu senso crítico, aprendi a exercitar diariamente o espirito de equipe, de cooperação. Praticando o teatro aprendi de modo criativo o sentido da disciplina, concentração, esforço, organização, entrega, força e determinação. Vivenciado o teatro passei a ter visão própria e diferenciada sobre todos os aspectos da vida. O teatro me deu autoconfiança, segurança. Graças ao teatro aprendi a me posicionar.





Fazer teatro para mim continua sendo um trabalho apaixonante e enriquecedor porque muito da minha formação hoje, como pessoa devo a esta arte de grande potencial politico, desmistificadora dos mecanismos opressores da sociedade.   O teatro deveria ser uma disciplina obrigatória em todas as escolas. Por causa da capacidade mágica e sublime que ele tem de mostrar outras formas de pensar e ver o mundo.  O teatro contribui para o desenvolvimento do espirito crítico e para uma postura mais aberta do ser humano possibilitando a ele se reinventar e se adaptar as novas situações e desafios que a vida oferece. 










O teatro nos permite ver e compreender a realidade. É a arte dos excessos, mas principalmente da sensibilidade. E como toda manifestação artística muda condutas e comportamentos, cria valores.
No teatro me fiz gente. O teatro tem sido o meu passaporte para o mundo. 










Para entender o potencial revolucionário do teatro, ler, estudar e refletir as obras de Oduvaldo Vianna Filho, Flávio Rangel, José Renato, Federico Garcia Lorca, Fernando Peixoto, Gianni Ratto, Peter Brook e Berthold Brecht. Leituras obrigatórias e essenciais para quem ama teatro. Para quem quer aprender a fazer teatro.




quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O ator empreendedor



Houve um tempo que bastava a um ator atuar, apenas interpretar o seu papel. Foi na época em que predominou a figura do encenador como criador absoluto do espetáculo.  Ao encenador como “criador e autor da cena” foi conferida a função de transformar o texto escrito em imagens, transformar os signos verbais e não verbais em uma grande partitura cênica. Ele tinha a autoridade, a experiência e o conhecimento para fazer a mediação entre o texto e a representação. Organizar e ordenar estruturalmente os elementos textuais em um espetáculo teatral.  E o ator era apenas mais um dos elementos cênicos que o encenador mobilizava  junto ao espaço,  cenários , figurinos,  música, acessórios  para materializar o texto verbal em representação no palco. Graças ao teatro de grupo que começou em meados da década de 90, o reinado do encenador e do primeiro ator acabou. 




Vivemos um momento de fertilidade criativa em que é o coletivo de atores que cria o espetáculo, na sala de ensaios, fora dela, utilizando experimentações de linguagens, improvisações e autodireção. Como os trabalhos artísticos nascem dentro do grupo, dentro de um coletivo de artistas, quanto mais funções o ator decidir desempenhar na criação da cena, mais preparo e conhecimento será exigido dele, pois ele escreve, produz, dirige, monta os cenários, cria os figurinos e atua nos  próprios espetáculos. O ator ultrapassa então a função de intérprete e abraça várias funções no fazer teatral, desde a dramaturgia, produção, sonoplastia, iluminação, a concepção de cenários e figurinos. Além de suas capacidades corporais, o  ator  sabe e tem consciência de que o  êxito e estabilidade do grupo vai depender também de sua capacidade de liderança,  comunicação e  gestão de pessoas.

Com o avanço tecnológico e vivendo hoje em uma cultura digital e globalizada, o ator passou a ter um perfil polivalente.  O ator é um profissional multitarefa.  Até nas atividades artísticas já existe a “job rotation” (rodízio de funções). Como no mundo corporativo, o ator não é mais individualista, e tem consciência de que não será  bem sucedido só pela sua capacidade de comunicação e de expressão.  Ele sabe que sua vitória  depende  do trabalho em equipe. Sabe que para alcançar o sucesso terá de empreender. Ser pró-ativo, ter iniciativa, e se atualizar constantemente.  Entender de mídias, dominar ferramentas e programas de computador para ampliar ainda mais suas possibilidades profissionais.  Como usuário de internet precisará se manter atualizado com todas as formas de interatividade na rede como blogs, orkut, twitter, e-mails, intranet para construir uma boa rede de relacionamentos (networking) e ampliar ainda mais suas possibilidades de trabalhos na área artística.



O ator no século 21 tem que ter responsabilidade, ética, ambição, personalidade e integridade. Tem que ser criativo, irreverente, se dasafiar, se engajar e se motivar nos mais diferentes ambientes de trabalho, e acreditar no seu potencial para alcançar seus objetivos. O ator que quer trabalhar com regularidade, não espera oportunidades de trabalho. Ele cria as  suas oportunidades.  As coloca em prática.  Muitos artistas tem trabalhado como  produtores independentes, em projetos pessoais, lecionando, realizando figurações, produzindo seus próprios trabalhos. Eu também passei a produzir meus próprios projetos por falta de recursos. E para ter liberdade artística, falar o que é importante e urgente. O jovem ator ainda desconhecido no mercado artístico terá que trabalhar em seu grupo com vontade, garra, determinação, motivação e profissionalismo para atingir o amadurecimento profissional e alcançar visibilidade para o seu trabalho e seu coletivo. O ator que quer ser bem sucedido em sua carreira terá que ter a postura de um empreendedor. Sendo o teatro uma atividade essencialmente prática, deverá o ator estar aberto e disponível para aprender e se aperfeiçoar mais e mais em sua área de atuação (seja teatro, dança, cinema, fotografia, artes plásticas, música, canto), não parar nunca de estudar, frequentar cursos, oficinas e workshops. O ator empreendedor terá que investir em seu aprimoramento pessoal e profissional, e se manter atualizado perante ás inovações e exigências do mercado artístico. Se desejar trabalhar em musicais, terá de investir em cursos de canto e dança. Se desejar trabalhar com audiovisual terá de investir em cursos de atuação  e formação para cinema.




Dentro de um trabalho de produção coletiva, o ator empreendedor terá de ser principalmente corajoso para encarar suas limitações, procurar ampliá-las e fortalece-las.  Deverá enfrentar seus medos e os preconceitos que venha a ter em um trabalho e se desafiar a superá-los.  Terá de vencer suas limitações físicas ou quaisquers outras que possam atrapalhar e comprometer sua tarefa de realizar seu trabalho com qualidade. Sozinho ou em equipe/grupo. 









Hoje, não dá para ser mais um especialista. Ter foco só em uma atividade. Um só interesse. É preciso conhecer e fazer um pouco de tudo. Transformar informação em conhecimento. Ter uma cultura geral. Ser versátil e criativo , e ter atitude para viver no mundo globalizado. Sem uma visão arrojada da importância do seu trabalho, o ator que não investir em seu preparo e aprimoramento cultural vai ficar para trás.  




Assim sendo, a primeira tarefa a realizar é aprofundar os seus conhecimentos e experiências. Não só no que diz respeito ao cotidiano, à vida, mas estar conectado com as coisas que acontecem no mundo para saber divertir e ao mesmo tempo instruir para ajudar a transformar a realidade.



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daysecabralatriz: Fazendo a lição de casa : Acredito que todo processo de preparação de um personagem , seja em que técnica ou método de ...