Houve um tempo que bastava a um ator atuar, apenas interpretar
o seu papel. Foi na época em que predominou a figura do encenador como criador
absoluto do espetáculo. Ao encenador
como “criador e autor da cena” foi
conferida a função de transformar o texto escrito em imagens, transformar os
signos verbais e não verbais em uma grande partitura cênica. Ele tinha a
autoridade, a experiência e o conhecimento para fazer a mediação entre o texto
e a representação. Organizar e ordenar estruturalmente os elementos textuais em
um espetáculo teatral. E o ator era
apenas mais um dos elementos cênicos que o encenador mobilizava junto ao espaço, cenários , figurinos, música, acessórios para materializar o texto verbal em
representação no palco. Graças ao teatro de grupo que começou em meados da
década de 90, o reinado do encenador e do primeiro ator acabou.
Vivemos um
momento de fertilidade criativa em que é o coletivo de atores que cria o
espetáculo, na sala de ensaios, fora dela, utilizando experimentações de
linguagens, improvisações e autodireção. Como os trabalhos artísticos nascem
dentro do grupo, dentro de um coletivo de artistas, quanto mais funções o ator
decidir desempenhar na criação da cena, mais preparo e conhecimento será
exigido dele, pois ele escreve, produz, dirige, monta os cenários, cria os
figurinos e atua nos próprios
espetáculos. O ator ultrapassa então a função de intérprete e abraça várias
funções no fazer teatral, desde a dramaturgia, produção, sonoplastia,
iluminação, a concepção de cenários e figurinos. Além de suas capacidades
corporais, o ator sabe e tem consciência de que o êxito e estabilidade do grupo vai depender
também de sua capacidade de liderança,
comunicação e gestão de pessoas.
Com o avanço tecnológico e vivendo hoje em uma cultura digital
e globalizada, o ator passou a ter um perfil polivalente. O ator é um profissional multitarefa. Até nas atividades artísticas já existe a “job rotation” (rodízio de funções).
Como no mundo corporativo, o ator não é mais individualista, e tem consciência
de que não será bem sucedido só pela sua
capacidade de comunicação e de expressão.
Ele sabe que sua vitória
depende do trabalho em equipe. Sabe que para alcançar o sucesso terá de
empreender. Ser pró-ativo, ter iniciativa, e se atualizar
constantemente. Entender de mídias,
dominar ferramentas e programas de computador para ampliar ainda mais suas
possibilidades profissionais. Como
usuário de internet precisará se manter atualizado com todas as formas de
interatividade na rede como blogs, orkut, twitter, e-mails, intranet para
construir uma boa rede de relacionamentos (networking) e ampliar ainda mais
suas possibilidades de trabalhos na área artística.
O ator no século 21 tem que ter responsabilidade, ética,
ambição, personalidade e integridade. Tem que ser criativo, irreverente, se
dasafiar, se engajar e se motivar nos mais diferentes ambientes de trabalho, e
acreditar no seu potencial para alcançar seus objetivos. O ator que quer trabalhar
com regularidade, não espera oportunidades de trabalho. Ele cria as suas oportunidades. As coloca em prática. Muitos artistas tem trabalhado como produtores independentes, em projetos
pessoais, lecionando, realizando figurações, produzindo seus próprios
trabalhos. Eu também passei a produzir meus próprios projetos por falta de
recursos. E para ter liberdade artística, falar o que é importante e urgente. O
jovem ator ainda desconhecido no mercado artístico terá que trabalhar em seu
grupo com vontade, garra, determinação, motivação e profissionalismo para
atingir o amadurecimento profissional e alcançar visibilidade para o seu
trabalho e seu coletivo. O ator que quer ser bem sucedido em sua carreira terá
que ter a postura de um empreendedor. Sendo o teatro uma atividade
essencialmente prática, deverá o ator estar aberto e disponível para aprender e
se aperfeiçoar mais e mais em sua área de atuação (seja teatro, dança, cinema,
fotografia, artes plásticas, música, canto), não parar nunca de estudar, frequentar
cursos, oficinas e workshops. O ator empreendedor terá que investir em seu
aprimoramento pessoal e profissional, e se manter atualizado perante ás
inovações e exigências do mercado artístico. Se desejar trabalhar em musicais,
terá de investir em cursos de canto e dança. Se desejar trabalhar com
audiovisual terá de investir em cursos de atuação e formação para cinema.
Dentro de um trabalho de produção coletiva, o ator
empreendedor terá de ser principalmente corajoso para encarar suas limitações,
procurar ampliá-las e fortalece-las.
Deverá enfrentar seus medos e os preconceitos que venha a ter em um
trabalho e se desafiar a superá-los.
Terá de vencer suas limitações físicas ou quaisquers outras que possam
atrapalhar e comprometer sua tarefa de realizar seu trabalho com qualidade.
Sozinho ou em equipe/grupo.
Hoje, não dá para ser mais um especialista. Ter
foco só em uma atividade. Um só
interesse. É preciso conhecer e fazer um pouco de tudo. Transformar informação
em conhecimento. Ter uma cultura geral. Ser versátil e criativo , e ter atitude
para viver no mundo globalizado. Sem uma visão arrojada da importância do seu
trabalho, o ator que não investir em seu preparo e aprimoramento cultural vai
ficar para trás.
Assim sendo, a primeira
tarefa a realizar é aprofundar os seus conhecimentos e experiências. Não só no que
diz respeito ao cotidiano, à vida, mas estar conectado com as coisas que
acontecem no mundo para saber divertir e ao mesmo tempo instruir para ajudar a
transformar a realidade.